AUTO-ORGANIZAÇÃO, AUTONOMIA E O CUIDADO EM SAÚDE MENTAL
Palavras-chave:
auto-organização, autonomia, saúde mental, cuidadoResumo
A prática manicomial, predominante por quase duzentos anos como única possibilidade de tratamento ao doente mental é segregadora, excludente, embasada na noção de periculosidade, onde o que se constrói é a negação de direitos e a impossibilidade do exercício da autonomia. O movimento da Reforma Psiquiátrica tem possibilitado a construção de práticas voltadas para o fortalecimento do poder contratual dos sujeitos e a autonomia emerge como valor importante e a ser considerado como central no cuidado em Saúde Mental. O adoecimento mental é fator marcante e desagregador na vida das pessoas, marcando-as com danos, desabilidades, deficiências, maior vulnerabilidade e comprometimento da autonomia pessoal, o que pode implicar em atitudes terapêuticas de maior autoridade. No entanto, entendemos que o exercício da autonomia encontra-se intrinsecamente ligado à totalidade do processo de vida dos sujeitos, refletindo o grau de auto-organização nele existente. Portanto, o ganho de autonomia implica em melhores condições de o indivíduo estabelecer a auto-organização. Assim, entendemos que somente uma prática voltada para o cuidado das pessoas pode possibilitar o fortalecimento da autonomia e consequentemente, de sua auto-organização, e que este deve ser o desafio e o objetivo das práticas em Saúde Mental.
Referências
BARROS, S.; EGRY, E.Y. O louco, a loucura e a alienação institucional: o ensino da enfermagem psiquiátrica sub judice. Taubaté: Cabral, 2009.
BARROS, S.; OLIVEIRA, M.A.F.; SILVA, A.L.A. Práticas inovadoras para o cuidado em saúde. Rev. Esc. Enf. USP, 2007, v.41(esp.), p.815-9.
BASAGLIA, F.S. (1968-1980): dall’apertura Del manicômio Alla nuova legge sull’assistenza psichiatrica. Torino: Giulio Eunaudi, 1982.
BOFF, L. Saber Cuidar: ética do humano-compaixão pela terra. Petrópolis: vozes, 1999.
CANGUILHEM, G. O Normal e o Patológico. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995.
CAMPOS, R.T.O.; CAMPOS, G.W.S. Co-construção da autonomia: o sujeito em questão. In: CAMPOS, G.W.S. et al. (orgs.). Tratado de Saúde Coletiva. São Paulo: Hucitec/ Rio de Janeiro: Fiocruz, 2006.
DESVIAT, M. A institucionalização da Loucura. In: ___.A Reforma Psiquiátrica. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1999, p.15-45.
FERREIRA, M. S. C. O Cuidado em Saúde Mental: a escuta de pacientes egressos de um Hospital Dia. 2010. 185 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade de Medicina de Botucatu, Departamento de Enfermagem, Botucatu, 2010.
KINOSHITA, R.T. Contratualidade e Reabilitação Psicossocial. In: PITTA, A. (org.). Reabilitação Psicossocial no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Hucitec, 2001, p.55-99.
MACHADO, A.L.; COLVERO, L.A. O Cuidado de Enfermagem: o sujeito do cuidado como sujeito da relação. 8º Enfetec. Anais Eletrônicos, 2002.
MERHY, E.E. A perda da dimensão cuidadora na produção da saúde,. In CR Campos et al. (orgs.) -Sistema Único de Saúde em Belo Horizonte Reescrevendo o Público São Paulo: Xamã, 1998, p.103-120
MERHY, E.E. Cuidado com o Cuidado em Saúde: saber explorar seus paradoxos para um agir manicomial. In: MERHY, E.E.; AMARAL, H. (orgs.). Reforma Psiquiátrica no Cotidiano II. São Paulo: Hucitec, 2007.
MORIN, E. A Noção de Sujeito. In SCHNITMAN, D.F. (org.). Novos Paradigmas, Cultura e Subjetividade. Artes Médicas, 1996.
PEREIRA, M.A.O. Representação da doença mental pela família do paciente. Interface – Comunic, Saúde, Educ, 2003; v.7, n.12, p. 71-82.
SANTOS, N.G. Do hospício à comunidade: políticas públicas de saúde mental. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1994.
SARACENO, B. Libertando Identidades: da Reabilitação Psicossocial a Cidadania Possível. Rio de Janeiro: Te Cora; 1999.
SILVA, J.A.C. et al. Importância da Autonomia como Princípio Bioético. Rev. Para.med, abr-jun 2012, v.26, n.2.
SOARES, J.C.R.S.; CAMARGO JUNIOR, K.R.A. A autonomia do paciente no processo terapêutico como valor para a saúde. Interface-Comunic, Saúde, Educ., jan-abr 2007, v.11, n.21, p.65-78.
VALENTINI, W. Nenhum Ser Humano Será Bonsai. In: http://www.candido.org.br/formacao/candido-escola/artigos/622-nenhum-ser-humano-serabonsai, 2001. Acesso em junho de 2013.